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REF: 11104 Categoria:

MOTA (ANRIQUE DA) – FARSA DO ALFAIATE

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MOTA (ANRIQUE DA) – FARSA DO ALFAIATE
Uma das mais antigas peças do Teatro Português. Seu autor: ANRRIQUE DA MORA. Agora prefaciada e anotada por J. LEITE DE VASCONCELLOS.
Edição da “Lusitania”. MCMXXIV (1924). In-8º de 49-III págs. Br.

Do site do JL, da autoria de Silvina Pereira, com a devida vénia, passamos a transcrever:

“Anrique da Mota é nome de um dos poetas mais conhecidos do Cancioneiro Geral (1516), cuja maior contribuição foi ter deixado cinco textos dramáticos: Lamentação (ou Pranto) do Clérigo; Farsa do Alfaiate; Farsa do Hortelão, Lamentação da Mula e Processo de Vasco Abul.

“Terá nascido no Bombarral, entre 1470 e 1480, e no Museu Municipal dessa cidade existe actualmente uma sala dedicada ao dramaturgo. Formado em Direito, foi escudeiro do rei D. Manuel em 1499 e exerceu as funções de juíz dos Orfãos em Óbidos, tendo falecido em data posterior a 1545. Como “escrivão da corte” o seu nome encontra-se ligado a numerosos documentos, alguns dos quais importantes para a história do teatro português, como seja a carta de privilégio para Baltazar Dias, dramaturgo cego da Ilha da Madeira, redigida em Évora, a 20 de Fevereiro de 1537. Filho de uma família possuidora de “vinhas, pomares e pinhais”, foi ele próprio comerciante de vinhos e na sua obra o tema do vinho encontra-se no Pranto do Clérigo e em diversas trovas.

“Venhamos então ao teatro e à louvável intenção feita por alguns estudiosos de prestar justiça aos seus dons dramáticos. J. Leite de Vasconcelos, na Revista Lusitania, em 1924, publicou a Farsa do Alfaiate, considerando-a “uma das mais antigas peças do teatro português”, estranhando que até então nenhum dos historiadores houvesse reparado na dramaticidade orgânica das trovas, ao mesmo tempo que abria caminho para que a restante produção dramática de Anrique da Mota fosse abordada sob esse ponto de vista.

“A. Crabé Rocha, no Bulletin d’Histoire du Théâtre Portugais, em 1951, refere-se à recepção feita a Anrique da Mota, lamentando que, embora Rodrigues Lapa houvesse mostrado “le caractere incontestablement théâtral” da sua contribuição no Cancioneiro Geral, essa apreciação não tinha sido ainda suficiente para o inscrever como dramaturgo, já que “Le silence et l’ombre couvrirent de nouveau la tombe de celui qui semblait avoir ressuscité.”

“Crabé Rocha foi uma das vozes femininas mais estimulantes de meados do século passado. Professora e ensaísta, portuguesa por adopção (mulher do poeta Miguel Torga), fez-se aqui advogada a favor dos “esboços dramáticos” do magistrado dramaturgo, cuja causa se afigura digna de toda a defesa, reclamando justiça literária para essa obra. Se também para Crabé Rocha, Gil Vicente é, indubitavelmente, a grande montanha da dramaturgia portuguesa, quanto a si, ela não se eleva sózinha na planície e, por isso, não deixa de fazer sentido, colocar aos seus pés um pequeno monte, constituído pelos diálogos dramáticos de Anrique da Mota, pois, segundo ela: “Son esprit est critique, concret, observateur, propre a retenir de la vie ses aspects pittoresques, flagrants, théâtraux. Et sa place serait la fosse commune de la multitude de rimeurs du C. G. , n’était sa vocation d’auteur comique.”

“É de referir que para A. Crabé Rocha o teatro português é “terra incógnita”, oferecendo-nos imagens sugestivas sobre esse deserto, cuja aridez provém em grande medida das deficiências do saber histórico-literário. A solidão de Gil Vicente deve-se ao seu mérito mas também ao relativo desconhecimento de outros dramaturgos coevos. Por isso, assumiu a missão de povoar a aridez do terreno, resgatando do vazio o maior número de dramaturgos.

“Para Crabé Rocha os exemplos dramáticos de A. da Mota no Cancioneiro Geral documentam a passagem sub-reptícia do género poético ao género dramático. E não deixa de assinalar o facto curioso de que a noção de que existiam no Cancioneiro autênticas farsas representáveis, desapareceu do espírito do público e mesmo dos estudiosos. Como se não se conseguisse reconhecer que nos encontramos em presença de teatro e não de poesia. Veja-se a propósito dos reflexos teatrais presentes no Cancioneiro Geral, o relato do embaixador espanhol Ochoa de Ysasaga sobre a festa espectacular realizada a 25 de Dezembro de 1500, publicado por Luiz Francisco Rebello no Primitivo Teatro Português.

“No Processo de Vasco Abul, em que Gil Vicente também intervém com um curioso parecer, Anrique da Mota desempenha o papel de juiz, tal como o fazia na vida. Os “processos dramatizados” que muito favor gozaram no teatro espanhol, como ainda na dramaturgia vicentina (recordem-se A Romagem dos agravados e O Juíz da Beira por exemplo) ou o Auto de Florença de João Escobar, mostram como o facto de pôr em cena um tribunal permite revelar melhor a comédia da vida.

“A relação entre o vinho e o clero é um dos temas tratados por Anrique da Mota e o seu Pranto do Clérigo tem graça e engenho jocoso e satírico. A situação é muito teatral, pois o clérigo sentindo-se órfão depois do vinho derramado, partilha a sua dor maldizendo o mundo e as gentes, primeiro à criada negra com quem vive em mancebia e, mais propriamente, à pipa que tão incautamente fez derramar a “rosa” da sua vida. Junta-se ao seu carpir outro vigário, e o entremez termina com um lamento inconsolável. Neste Pranto se chora a perda do “Caparica”, vinho também nomeado e cantado em obras como, o Pranto da Maria Parda, a Comedia Ulysippo de Jorge Ferreira de Vasconcelos, e o Banquete dado na Índia de Luís de Camões.

“Pelos seus diálogos dramáticos, Anrique da Mota chegou a ser considerado como um precursor de Gil Vicente, uma ideia pugnada por Leite de Vasconcelos, seguida por Crabé Rocha e outros, até que Eugenio Asensio declarou que, pelo contrário, a cronologia “sugiere que el precursor fué Gil Vicente”. No entanto, para Crabé Rocha, que acreditava na teatralidade de alguns destes textos, a verdadeira prova do teatro é o palco, e essa foi superada em 1993, quando o Teatro da Cornucópia apresentou o espectáculo A Mula, O Clérigo, O Alfaiate e Mais Lamentações.

“A história de Inês, símbolo e mito do Amor, foi celebrada por cronistas, poetas e dramaturgos, como Jorge Ferreira de Vasconcelos, Camões e António Ferreira. Em meados do século XX, Eugenio Asensio descobriu em Évora, (no fundo da Biblioteca da Manizola) uma “Carta sobre a morte de Inês de Castro”, de Anrique da Mota, dirigida ao Rei D. João III em 1528, onde os elementos narrativo, lírico e dramático se entrelaçam. Devido a esta carta ou Visão de Inês de Castro, Anrique da Mota foi justamente incluído por Asensio (1959) e por Jorge de Sena (1963), no número dos escritores que trataram o tema. E se Anrique da Mota não chegou a atingir a intensidade das Trovas à morte de Inês de Castro de Garcia de Resende, ofereceu-nos em contrapartida uma cena do encontro entre Pedro e Inês moribunda, tão inesperada quanto rica em possibilidades dramáticas”.

Exemplar em muito bom estado de conservação, inteiramente por abrir.

INVULGAR.

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